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O regresso das fábricas escola

02-12-2019


A mudança é uma constante e exige das empresas permanente transformação. Com a diferenciação assente não nas ferramentas, mas na forma como se utilizam, a formação apresenta-se como a chave dos processos de melhoria contínua.

 

Uma verba para formação contínua é algo que terá de estar presente nos orçamentos das empresas. Como as escolas demoram a adaptar-se à mudança e aos mercados – e estão mais focadas em competências core – a tendência passará pelo ressurgimento do conceito de fábrica escola, onde a formação acontece dentro da própria empresa, numa resposta rápida e de proximidade às necessidades específicas que surgem a cada momento.

 

Das áreas técnicas às soft skills

 

Em que áreas? Tudo o que são soft skills, áreas comportamentais, de relação com os outros e gestão da pressão decorrente dos projectos, como a gestão de conflitos e gestão emocional, pontos de grande fragilidade no seio das empresas.

 

Outra área fundamental é a organização das empresas, com enfoque nas funções dos departamentos e na forma como o desempenho de cada um impacta o dos outros e a organização no seu todo. 

 

Tudo o que respeite à melhor forma de utilizar as ferramentas que derivam da implementação de novas práticas de gestão, como o Lean, que exigem um grande esforço de adaptação e conhecimento à medida. Igualmente importante é a formação em áreas técnicas como a soldadura e desenho técnico. 

 

Comunicar com clareza e respeitar diferenças culturais

 

Como falar em público, ou comunicar através da escrita de forma clara, evitando múltiplas interpretações que geram mal entendidos e conflitos, são também tópicos essenciais, num momento em que as empresas cada vez mais correm contra o tempo.

 

Num mercado global, a abordagem às diferenças culturais é também imperativa, e ainda descurada no ensino. Para evitar choques culturais importa saber, por exemplo, que a forma como se negoceia com alemães, é diferente da forma como se negoceia com portugueses. Enquanto os primeiros vão directos ao assunto, de uma forma clara e estruturada, a cultura portuguesa tende a começar por conversa de circunstância, antes de mergulhar nos números e condições.

 

Crescente exigência da função comercial 

 

Também a função comercial, tantas vezes subestimada, representa uma área fundamental nas empresas. Um bom comercial, para além de um profundo conhecimento técnico sobre o produto ou serviço que está a vender, terá cada vez mais de ser um especialista em análise de mercado, estatística e negociação. 

 

O ressurgimento das fábricas escola resulta da necessidade de reinventar os conhecimentos base, adaptando-os à realidade da indústria. Formação permanente, à medida, e na própria empresa são ingredientes essenciais numa cultura de inovação contínua, tanto na intervenção ao nível dos novos quadros, como na reciclagem dos residentes. 

 

Estereótipos à parte: alinhar competências às necessidades das empresas

 

Para que haja mais abertura a novas profissões, como a de soldador, tão relevante e com tanta procura em indústrias como a metalomecânica, é preciso promover, visitas dos alunos, desde cedo, a empresas industriais, que por sua vez deverão ter condições para os receber. Com o conceito de fábrica escola implementado, e a indústria desindustrializada (mais clean), essa ligação será mais fácil, e com resultados mais profícuos. 

 

Numa fase mais avançada do ensino, ao invés de reter alunos por questões de sustentabilidade, as escolas deveriam promover mestrados em contexto de trabalho, para que a especialização ocorra já com ligação ao meio empresarial. 

 

A dificuldade de contratação de novos quadros em áreas chave é hoje uma das maiores ameaças ao crescimento das empresas em algumas indústrias. O conceito de fábrica escola pode ser parte da resposta a este problema. 

 

Ideias a reter

 

1 – Para responder aos processos de inovação contínua, os orçamentos das empresas têm de contemplar uma importante verba para formação contínua

 

2 – Com as ferramentas ao alcance de todos, é a formação que potenciará a sua melhor utilização


3 – Áreas comportamentais, organização de empresas, comunicação oral e escrita, diferenças culturais e a abrangência da função comercial são tópicos obrigatórios

 

4 – Para que conheçam novas profissões, e se alinhem competências às necessidades das empresas, é importante que os alunos visitem desde cedo a indústria

 

5 – A formação contínua e uma maior ligação às escolas como resposta a uma das maiores ameaças ao crescimento das empresas em algumas indústrias: a dificuldade de contratação de novos quadros


 

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